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Parcelado sem juros: Uma ideia errada que deu certo

Parcelado sem juros: Uma ideia errada que deu certo

A rigor, a modalidade não existe, mas sua ideia central permitiu que a população brasileira tivesse acesso ao consumo

   Estamos diante de uma polêmica: a modalidade de parcelamento sem juros deve ou não ser extinta? De um lado, grandes bancos advogam pela revogação ou substituição da modalidade, enquanto varejistas e neobancos defendem vigorosamente sua manutenção. Os bancos afirmam que o parcelamento sem juros causa inadimplência insustentável, traz insegurança financeira para o varejo e só atende aos interesses dos neobancos e dos adquirentes independentes. Por outro lado, os varejistas de bens de consumo duráveis e têxtil, somados aos de food service (bares e restaurantes), defendem tanto o parcelado sem juros quanto os adquirentes independentes, alegando que os grandes bancos erraram na dosagem da concessão de crédito via cartões (e aí incluem as fintechs e os neobancos). O Banco Central estuda fórmulas para remodelar o parcelado, talvez usando o Pix. 

   No meio do tiroteio de alegações, o consumidor, quase sempre ele, não é ouvido. É curioso vermos empresas, associações, especialistas e economistas falando em nome do consumidor sem, no entanto, terem autoridade ou legitimidade para isso, a partir de seus posicionamentos. Os fatos e, ao lado deles, os dados atestam que o parcelado “sem juros” é um desenho que traz uma armadilha maliciosa, ao mesmo tempo que funciona como dínamo do mercado interno: o preço à vista é majorado para suportar a despesa financeira representada por um parcelamento “sem juros”. Dessa forma, o erro de vender o preço à vista em parcelas iguais pelo cartão de crédito, que limita o desconto à vista, permite a legiões de consumidores realizarem sonhos de consumo por meio do valor mensal “que cabe no bolso”. 

   Esse contexto leva comentaristas a afirmar que o consumidor deveria “aplicar” o valor da parcela mensalmente, para então ter o valor do bem depois de algum tempo e aí adquiri-lo pagando à vista, talvez com desconto. O raciocínio é equivocado, por mais que faça sentido matemático. Isso porque tal viés desconsidera vários fatores que influenciam o comportamento do consumidor brasileiro:

♦ Estamos em um País de renda média. A grande maioria dos consumidores não dispõe de renda para fazer compras de valor razoável à vista.

♦ Exatamente por ser um País de renda média, a maioria dos consumidores pensa no crediário, na venda a prazo e NO VALOR DA PARCELA INICIAL, porque o valor integral está sempre distante de suas possibilidades.

♦ A aversão à perda é um viés elementar, muito mais potente e motivador que a adesão ao ganho. Deixar de aproveitar uma entrada ou primeira parcela que “cabe no bolso” é apostar em um futuro no qual o produto esteja ainda mais distante de sua renda.

♦ Pelo viés de retrospectiva, “as imagens do futuro são moldadas pela experiência do passado”. Isso quer dizer que o consumidor faz suas escolhas com base na própria vivência, normalmente carente. Diante do futuro incerto e do passado no qual o bem era inacessível, o consumidor opta pelo parcelamento.

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O comportamento do consumidor fala por si só

   Essa breve incursão pela compreensão do consumidor brasileiro mostra que o parcelado sem juros cumpre uma função social. A inadimplência associada à modalidade, em torno de R$ 44 bilhões no cartão de crédito, corresponde a, digamos, 2,5% do PIB, ou seja, é menor do que a de países com economia comparável à nossa – o volume é o maior da série histórica iniciada em 2011, segundo dados da Serasa Experian. O montante equivale a 31,5% do saldo total de R$ 135 bilhões registrados nos cartões.

   A adoção do cartão de crédito no Brasil equipara-se à da França e da China (40% aqui contra 39,7% e 37,8% nesses países, respectivamente) e é inferior à da Alemanha (56%) e à dos EUA (70%), de acordo com dados da CardRates. A contratação de crédito via cartões no Brasil corresponde a cerca de 15,5% do total (segundo dados da Fitch). Em média, cada brasileiro inadimplente no cartão deve cerca de R$ 4.477,00, uma quantia anabolizada por juros distorcidos cobrados pelos bancos. 

   Mas o dado crucial é que 65% dos gastos totais com cartão correspondem a compras de supermercado, de acordo com a Serasa Experian. Então, a gritaria em torno do parcelado sem juros ignora completamente a realidade do consumidor brasileiro, sempre à procura da satisfação de necessidades médias, típicas de um País de renda média. Esse consumidor médio, que representa mais de 70% daqueles com acesso ao mercado, gera as receitas que sustentam a maior parte do varejo brasileiro. 

   Essa perspectiva não pode ser negligenciada. É fundamental que as empresas e o regulador olhem com cuidado para as nuances do parcelado sem juros e sua influência na dinâmica da economia e do mercado interno. Em um cenário em constante evolução, no qual tecnologias como o Pix estão sendo consideradas para remodelar o parcelamento, é importante que haja uma abordagem colaborativa entre bancos, varejistas, reguladores e consumidores.

   A continuação desse debate deve considerar não apenas os interesses econômicos, mas também a responsabilidade social de oferecer aos consumidores meios que lhes permitam alcançar seus objetivos de compra de forma consciente e sustentável. No fim do dia, a harmonização das perspectivas de bancos, varejistas e consumidores é essencial para construir um cenário de consumo mais sólido e equitativo. 

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