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FIM DAS IDADES

FIM DAS IDADES

O novo consumidor é taxativo: é ele quem dita seu estilo de vida, e não o ano em que nasceu. Chegou a hora de esquecer velhos modelos de segmentação POR CAROLINA COZER

Já dizia o escritor e dramaturgo britânico Oscar Wilde: “Definir é limitar”. A frase, escrita no século 19 para o livro O Retrato de Dorian Grey, caiu na boca dos jovens do Orkut, dois séculos depois. A rede social – nos anos 2000 a mais popular do Brasil – exigia que usuários preenchessem seus perfis com uma informação para lá de complexa: “quem é você?”. A frase de Wilde, aparentemente, caía como uma luva para que as pessoas pudessem responder a esse complexo enigma. Por todos os lados, perfis usavam a frase do célebre britânico para explicar que não queriam ser colocados em “caixas”. Da mesma forma que o retrato amaldiçoado do livro – quando questionado sobre quem (ou o quê) ele era – os jovens não conseguiam (ou não queriam) expressar a totalidade de si em alguns poucos caracteres.

   Mas se engana quem pensa que são apenas as gerações mais jovens que não aceitam rótulos. O consumidor, como um todo, quer ter a liberdade de assumir vários papéis ao longo de sua vida. Desta forma, as marcas precisam compreender que não é mais possível colocar consumidores dentro de moldes, esperando que os clientes sejam para o resto da vida da mesma forma. É preciso ter versatilidade identitária dentro das corporações, se mostrando de diferentes formas para diferentes grupos, sem perder a coerência. Quem não tiver essa plasticidade dificilmente irá para frente.

Contudo, identificar a “idade real” – emocional e não cronológica – de seus consumidores pode não ser uma tarefa assim tão fácil. A diretora da Peclers Paris no Brasil e sócia da Dezon Consultoria Estratégica, Iza Dezon, uma das embaixadoras do Projeto “Identidades” da CM (veja detalhes na página 36), sugere que as marcas estejam atentas a algo mais importante que a segmentação por idade: o estilo de vida. “A segmentação de um produto precisa ir além. Até porque, quando um produto é bom para uma criança ou para um maduro, ele é bom para todo mundo”, diz.

   A Consumidor Moderno conversou com representantes de empresas já conectadas com essas mudanças. Os mercados de saúde, produtos de beleza, cuidados pessoais e telecomunicações têm cases que mostram o quanto esses setores estão de olhos abertos para o consumidor livre de rótulos, enquanto novos mercados, como jogos digitais e co-workings, se preparam para uma expansão identitária.

QUANDO UM PRODUTO É BOM PARA UMA CRIANÇA OU PARA UM MADURO, ELE É BOM PARA TODO MUNDO.”

IZA DEZON, DIRETORA DA PECLERS PARIS

Múltiplas narrativas

Marina Roale, líder em pesquisa e conteúdo da Consumoteca e embaixadora do arco “Idades Emocionais” do projeto Identidades, explica que o movimento de fim das idades começou com a geração millennial, ao romper com o mindset dos grupos anteriores. Segundo ela, isso foi proporcionado pela conectividade, que permite múltiplas narrativas de vida.

   A pesquisadora conta que, enquanto as pessoas da Gen X e os Baby Boomers tinham um roteiro preestabelecido a ser seguido (que envolvia estudar, trabalhar, casar, ter filhos e se aposentar), agora não há mais um padrão de linha do tempo. A grande liberdade que surge daí, pode, ao mesmo tempo, gerar confusão e ansiedade. “Os millennials estão vivendo uma crise ao começarem a envelhecer. Eles sempre se sentiram muito jovens, e agora, ao passarem dos 30 anos, não se veem representados na figura dos pais deles na mesma idade”, explica Roale.

   Nessa fase, ela conta, os millennials estão começando a entrar em uma crise de conquistas, afinal, fizeram coisas totalmente diferentes daquelas relacionadas ao modelo do adulto duro, rígido e resoluto das outras gerações: “É só ver o tanto que há desses memes na internet que brincam sobre a vida adulta. Eles são um reflexo desse movimento, dessa crise de não se ver representado pela idade que tem”, diz.

   Ao mesmo tempo, na outra ponta, o aumento da longevidade, com qualidade de vida, e o acesso a novas tecnologias fizeram surgir pessoas na faixa etária conhecida como terceira idade, mas com comportamento associado aos jovens. É um público maduro, mas altamente conectado e ativo, fugindo totalmente do estereótipo.

A personagem central do arco temático Idades Emocionais, do Projeto Identidades, é a aposentada Ana Lúcia de Mello Castanho. A ex-relações públicas de 62 anos viu na maturidade uma possibilidade de se desconstruir e reinventar. Hoje, mantém a página @rebeca60oumais, no Instagram, com quase mil seguidores. Lá, publica fotos reais de mulheres com 60 anos ou mais, como o nome já diz, e escreve sobre o empoderamento desta faixa etária. “Minhas amigas ficaram encantadas com o descobrimento de uma nova fase na minha vida, que foi de me reinventar na terceira idade. No Instagram, posto foto delas para valorizar a beleza e a autoestima nessa fase, para que cada uma encontre novamente o seu caminho. Ainda temos muito trabalho pela frente.”

   No projeto, a aposentada percebeu que a beleza da mulher madura não tem a ver com o corpo físico, e a autoestima não depende de cirurgias plásticas. “O que quero valorizar é que toda mulher pode ser bonita. Não é porque ela chegou aos 60 ou 70 que ficou feia. As fotos que coloco são reais, são delas, e elas devem gostar de si mesmas como são.” E brinca: “Envelhecer graciosamente é achar graça em você mesma, em primeiro lugar. Eu até exagero no sentido de me sentir bem. Brinco muito com essa coisa de ‘eu sou linda, sou maravilhosa’. Brinco com a vida quando escrevo e faço vídeo.”

   O projeto rende frutos não apenas na vida de Ana Lúcia. Além de entrevistas para revistas e televisão, a aposentada recebe feedbacks transformadores das participantes do projeto. “Uma (das seguidoras) da página tem 78 anos, e acabou de assinar contrato com uma agência de modelos. Ela era minha cliente, e queria ajudá-la a se reinventar da mesma forma como estou me reinventando. Aprendeu a fazer selfie, fotografar na frente do espelho, colocar roupas, e uma agência a chamou para fazer fotos. É transformador”, desabafa.

   “O que quero deixar para a próxima geração é que não tenham medo de envelhecer. Eu tinha muito medo, porque a minha mãe – e a geração dela – não envelheceram com qualidade. E não quero que minhas filhas sintam a mesma coisa; quero passar para elas que envelhecer não é acabar – é um processo do qual devemos passar bem.”

Os millennials estão vivendo uma crise ao começarem a envelhecer. (…) Ao passarem dos 30 anos, não se veem representados na figura dos pais na mesma idade.”

MARINA ROALLE, LÍDER EM CONSUMO DA CONSUMOTECA

Além das eras

Basta olhar ao redor para encontrar exemplos. Atualmente, a internet e a cultura pop estão recheadas pelo modelo do “vovô radical”, que salta de paraquedas e se aventura nos mais diversos esportes da juventude. Isso pode parecer, à primeira vista, uma boa representação da libertação geracional. Mas, ao contrário, acaba limitando – ou forçando – as possibilidades do que um maduro fora da caixa possa ser.

   Da mesma forma, os mais jovens também rompem com a régua das idades ao buscar estilos de vida distantes das tendências de futuro e metrópoles. Os jovens Rommel Werneck e Maurício Rigonatti são dois exemplos de millennials que fogem da curva e não se enxergam nos estereótipos de suas cronologias.

   Werneck, de 32 anos, se vê como uma pessoa de idade mais avançada do que seu RG, por ter hábitos e gostos estéticos que classifica como “antiquados”. “Não sei o que se espera de alguém com 32 anos, mas penso que costurar costumes históricos me afaste de algo convencional”, diz. O jovem, que mora na cidade de Santo André (São Paulo), é organizador do Picnic Vitoriano, uma sociedade revivalista para amantes das estéticas Vitorianas, Medievais, Eduardianas ou da Belle Époque francesa (de 1914). Segundo a descrição oficial, os piqueniques ocorrem em parques ou áreas histórico-culturais de São Paulo, onde os participantes são encorajados a “reviver”, “reconstruir” e “reler” costumes e indumentárias de épocas antigas. O público é diverso, de crianças a adultos de todas as idades.

   Mas o estilo de Werneck, que gosta de usar ternos, calças sociais e kilts (uma espécie de saia masculina escocesa) vai muito além de um hobby nos fins de semana; é a forma como ele se veste no dia a dia, salvo raras exceções: “Há mais de dez anos não uso calça jeans, porque acho igualitário, de uso excessivo, sem criatividade, pesado e desconfortável. Uso tênis somente para situações cotidianas, como academia e sair para pagar uma conta. Sapatênis foi um hábito recente, justamente para vestir a moda esporte do mid century, que é o que uso na maioria dos dias, e por ser menos formal”, explica.

   Apesar de se sentir fisicamente confortável ao usar roupas casuais, ele não se sente seguro ou integralmente tranquilo. “Sinto uma dupla ou tripla pressão. De um lado, algumas pessoas acreditam que, por ter mais de 30 anos, eu não poderia me vestir de modo tão ousado. Mas há outros partidários do oposto: de que me visto como uma pessoa mais velha e muito formal. A tripla pressão seria porque sou gay. É muito difícil frequentar ambientes LGBTs, pois eles não nutrem devoção vintage e não compartilhamos do mesmo gosto cultural, musical, artístico, social”, desabafa. Entre os demais interesses de Werneck, estão a escrita da prosa poética em estilo tradicional e, às vezes, a redação de suas conversas informais na bella graphia antiga, por puro atrevimento.

   O médico Maurício Rigonatti Gonçalves, 30 anos, por outro lado, quebrou uma expectativa profissional e geográfica. Há cinco anos, Rigonatti já coordenava duas unidades de tratamento intensivo na capital de São Paulo, com grandes perspectivas de internacionalização de seus projetos. Aos 27, porém, acabou abandonando o trabalho para viver uma vida mais simples no interior. “O objetivo foi simplesmente modificar os hábitos por outros mais saudáveis. Em São Paulo eu tinha um futuro muito bom, mas larguei por conta da minha qualidade de vida”, conta, sem arrependimentos.

   Ele explica que tomou essa decisão pautado no fato de que ainda não tinha filhos – o que o deixava mais seguro na parte financeira. “Comecei do zero aqui no interior. Não conhecia ninguém”, conta. Hoje ele atua também na coordenação em um hospital local, mas com a facilidade de estar em uma cidade com custo de vida menor, mais acesso à natureza e ritmo leve. “Esta mudança é uma coisa que geralmente se opta aos 45, 50 anos, em que começamos a diminuir o tempo de profissão para poder ficar mais próximo da família, mas eu quis antes.” O médico se enxerga com perfil muito mais aderente ao de pessoas mais velhas, inclusive nos hábitos de consumo e financeiros. Ele explica que 50% de sua renda é destinada à construção de patrimônio. “Tenho um plano muito claro na minha vida para o que desejo para os próximos cinco ou dez anos. Então, acho que isso me coloca como uma pessoa diferente da idade.”

HÁ MAIS DE DEZ ANOS NÃO USO CALÇA JEANS, PORQUE ACHO IGUALITÁRIO, DE USO EXCESSIVO, SEM CRIATIVIDADE, PESADO E DESCONFORTÁVEL.”

ROMMEL WERNECK, ORGANIZADOR DO PICNIC VITORIANO

ESTUDOS E TENDÊNCIAS

16%

Pesquisas mostram que o público sênior terá da renda do País nos próximos quatro anos – no Japão, ele já representa 31% da renda total, segundo o estudo da “Consumer Generations”, divulgado pela Tetra Pak.

Idosos são o único target que apresentou crescimento em unidades, em volume comprado e valor desembolsado nos últimos

12 MESES

(dados até julho de 2019), segundo o painel de consumo da Kantar.

Segundo o IBGE, a expectativa de vida do brasileiro chegou a

76,5 ANOS

em 2019. A previsão é de que em 2030 teremos mais idosos do que crianças, com 41,4 milhões de pessoas, ou 18% da população. Há, também, projeção de uma população de 73 milhões de idosos em 2060 no País – um incremento de 13% para 32%.

De acordo com o

HYPE60+

hoje, no Brasil, os 60+ já representam mais de 15% da população e são responsáveis por 20% do consumo no País. O estudo também indica dados sobre as facetas tecnológicas deste público: 71% dos participantes afirmam ser digitais e 88% utilizam WhatsApp, 65% Facebook e 48% Instagram.

Fim das idades, não das gerações

Personagens como Rigonatti e Werneck podem ser difíceis de ser identificados nos moldes demográficos pelas empresas, mas isso não significa que não tenham nenhum vínculo com sua geração. Se antes éramos pautados por rituais de passagem – como nascimento, vida adulta, trabalho, casamento e aposentadoria – hoje essas delimitações desapareceram, ou se tornaram, no mínimo, muito mais diluídas. O doutor em Antropologia do Consumo Michel Alcoforado concorda que haja um fim das idades na sociedade contemporânea, contudo, discorda que haja um fim nas gerações.

   Pessoas de gerações diferentes, ele comenta, podem consumir e usar produtos que são mais propensos aos mais jovens ou mais velhos – uma liberdade que temos hoje, mas não tínhamos no passado – mas, de certa forma, ainda há gostos distintos pautados por gerações distintas. “A diferença é que agora você não precisa mais obedecer ao ciclo geracional para poder consumir determinado produto. Mas a gente vê, sim, drives diferentes a partir de gerações distintas. A grande inovação, pelo meu ponto de vista, é a cobrança às empresas para que aumentem o portfólio de produtos, conseguindo atender diferentes mindsets.”

   Para o antropólogo, as gerações maduras, hoje, exigem muito mais conexão com o mundo novo do que exigiam há uma década – mas a forma como se relacionam com o novo é diferente daquela dos que nasceram com o pé na tecnologia. Seria mais ou menos como aprender uma nova língua: quanto mais tardio é o aprendizado, mais gargalos e sotaques existirão. “Alguém de 90 anos que comece a usar biquíni (ou o Instagram) não usará do mesmo jeito que alguém de 15 anos. É óbvio que as oportunidades de consumo não estão atreladas ao seu estágio de vida, com sua data de nascimento, mas a forma como você consome é condicionada pelo olhar do mundo em que você nasceu. Todo mundo pode fazer o que quer, mas não faz do jeito que quer, porque a cultura determina esse jogo”, diz.

   “As empresas vão ter de levar em consideração que vamos viver cada vez mais e nos aposentar cada vez mais tarde, o que impacta muito a cultura interna. Os RHs têm de estar preparados para os processos de envelhecimento dos colaboradores; têm de entender que é preciso ajudá-los e acompanhar o seu tempo”, complementa.

   É preciso garantir um portfólio muito amplo em oferta de produtos, que atenda a diferentes gerações e perfis, para que o público se sinta contemplado. É o que conta Maria Paula Fonseca, diretora global da marca de cosméticos Natura, que sofreu mudanças recentes nas suas propagandas de maquiagem. A executiva explica que, anteriormente, as marcas precisavam ser representadas por jovens para se manterem atuais. Hoje, não é mais assim: uma marca contemporânea, que conversa com espírito do tempo, é diversa, dialoga e inclui todo mundo.

   “Antes, não usávamos mulheres mais velhas para representar uma pessoa usando a maquiagem. Hoje, a gente usa. No movimento que chama #MeuVermelho, há uma mulher de mais de 60 anos que mostra a sua pele, com marcas e tudo mais, passando um batom vermelho. A gente precisa garantir essa representatividade para gerar identificação em todas as faixas etárias. Não só quando se fala em cremes para rugas ou para pele, mas maquiagens, perfumes… De maneira geral, as pessoas precisam se sentir representadas”, acrescenta.

   Fonseca confirma na prática empresarial que, de fato, o consumidor exige cada vez menos rótulos. E as gerações jovens, ela explica, têm uma grande função no lançamento e no teste de tendências. “É mais fácil introduzir novos hábitos de consumo pelos mais jovens, porque eles experimentam mais. Uma vez que hoje tudo está mudando muito, a geração mais jovem acaba sendo um espelho para todo o mundo, para quem vem antes e para quem está depois. O jovem acaba tendo uma abertura para a experimentação, então é importante estarmos conectados com o consumidor jovem, mas de jeito nenhum apenas com ele. Há, também, várias necessidades de uma geração mais velha que tem acesso, tem renda, especificidade de pele, de cabelo”, exemplifica.

Segmentação por lifestyle

Desenvolver estratégias mais abrangentes, que enxerguem o cliente como um todo, é também o propósito da Claro Brasil. “A gente, hoje, não tem distinção na visão do cliente quando pensamos na marca, mas temos estratégias desenhadas para atender a cada um dos segmentos. Por exemplo, temos uma campanha específica de uso dos nossos aplicativos para o cliente da terceira idade, porque ele é um cliente tão bom, intenso e importante quanto qualquer outro dos nossos produtos. Então temos uma estratégia específica de abordagem a esses clientes”, comenta Celso Tonet, diretor de Atendimento da empresa.

   Ele explica ser observável, dentro da Claro Brasil, o quanto o público tem-se tornado diluído em relação à adoção de novas tecnologias, uma vez que os produtos, hoje, estão mais calcados no comportamento de uso do que nas demografias. “Você tem um pessoal mais jovem que usa o nosso produto com uma quantidade muito forte de dados, de conteúdo, de imagem, e o pessoal de mais idade ainda se utiliza mais da mensagem, até mesmo da telefonia. Mas, na verdade, o que começamos a observar é um mix de utilizações em todas as classes. Hoje, não teria como dizer ‘essa idade usa mais isso, essa idade usa mais aquilo’. Até porque telecom é um produto que todos utilizam. Por conta disso, o que vemos são clientes de todas as idades utilizando nossos produtos”, diz.

   É fato dado que vamos viver mais. O fato não dado é a qualidade dessa vida a mais. Para o diretor de Relacionamento com Clientes, Comunicação e Marketing do Grupo Fleury, William Malfatti, os consumidores estão cada vez mais preocupados com a busca pela qualidade de vida – o que inclui o público 60+. E ele comenta que os clientes maduros são heterogêneos e não são previsíveis dentro de seus hábitos digitais como parecem. Ele cita como exemplo o recurso “Atendimento Ágil”, implementado em algumas unidades dos laboratórios Fleury e pensado para uma persona de até 45 anos. São totens em que o cliente insere suas informações para agilizar o atendimento e, ao ser chamada, a pessoa vai direto para a sala de exame.

   “A gente tem um número crescente de pessoas acima dos 60 anos usando esse recurso. Podíamos imaginar, em um primeiro momento, que seria uma coisa exclusiva dos mais jovens, mas não é por aí”, diz. Para melhor atender esse público que é adepto ao digital – mas não nativo – Malfatti conta, porém, que não adianta adotar o que é novo e abandonar o tradicional. É preciso operar com o legado das gerações. “A gente fala muito da questão de as pessoas serem atendidas pelo WhatsApp e via chat. Temos feito todos os avanços de acordo com o que a tecnologia oferece, e que vai melhorar a experiência do cliente conosco. Por outro lado, precisamos manter aquele meio que pertence a outra geração, e que é preferido de vários. Pegando o caso típico da ligação telefônica, é preciso ter disponibilidade de recursos variados para atender a hábitos e costumes diferentes.”

SE ANTIGAMENTE AS PESSOAS SE APOSENTAVAM E ERAM CONSIDERADAS IDOSAS JÁ AOS 50, 60 ANOS, HOJE ENCONTRAMOS GENTE ACIMA DE 70 ANOS BASTANTE ATIVA.”

ZECA VIEIRA, DIRETOR DE MARKETING CORPORATIVO DA SULAMÉRICA

Ultrapassando fronteiras

Outra empresa que investe na gestão de programas voltados para diferentes fases da vida é a SulAmérica. Zeca Vieira, diretor de Marketing Corporativo da companhia, destaca a importância de observar os novos hábitos da terceira idade conectada. “Se antigamente as pessoas se aposentavam e eram consideradas idosas já aos 50, 60 anos, hoje encontramos gente acima de 70 anos bastante ativa, com boa saúde, produtiva e com alto poder de consumo.” Ele explica que, no entanto, embora haja potencial de consumo, muitas marcas negligenciam essa parcela da população e têm grande dificuldade em dialogar com esse público.

   Esta oferta de produtos para targets diversos, contudo, exige um profundo entendimento das necessidades e expectativas de cada consumidor. Para Vieira, marcas admiradas pela geração dos Baby Boomers, por exemplo, podem ser ignoradas por pessoas que se identificam como mais jovens, ou, ainda, marcas que não existiam há cinco anos estar entre as que mais crescem em admiração e valor. “Entender o que é valor para os diferentes perfis faz todo o sentido no processo de construção das marcas”, diz.

   Diferentemente das gerações mais jovens – que são nativas digitais – as gerações mais velhas viram o surgimento da tecnologia. A diretora de Imagem e Comunicação da Vivo, Marina Daineze, destaca que um dos grandes desafios da empresa, como marca inclusiva e democrática, é se adaptar aos diversos públicos. “Os consumidores conhecem e entendem seus limites, mas não gostam que sejam limitados pelos outros.” O futuro, ela diz, aponta um caminho em que as empresas não deverão ter produtos adaptados especificamente aos idosos, mas às diversas realidades existentes. “A tecnologia e a conexão não são exclusivas a nenhuma geração. O caminho é ajudá-los (os mais velhos) a ultrapassar barreiras já existentes e retratá-los de forma verdadeira”, explica.

   Oferecer múltiplos meios de comunicações e serviços pode ser uma alternativa para conversar com os consumidores multidisciplinares. Andrea Carpes, diretoria de Atendimento ao Cliente no Itaú Unibanco, conta que a adoção de diversos canais de comunicação, tanto on-line quanto off-line, permite que o cliente escolha onde e como quer ser atendido. O que levou a esse entendimento, ela diz, foram estudos e análises de comportamento entre consumidores, em todas as áreas de negócio. “O que aprendemos analisando os dados e interagindo com nossos clientes é que a idade não é o fator que mais influencia o seu comportamento. Outros aspectos, como renda e nível de educação, acabam tendo mais relevância, principalmente quando falamos de uso dos canais digitais”, comenta.

A TECNOLOGIA E A CONEXÃO NÃO SÃO EXCLUSIVAS A NENHUMA GERAÇÃO. O CAMINHO É AJUDÁ-LOS (OS MAIS VELHOS) A ULTRAPASSAR BARREIRAS.”

MARINA DAINEZE, DIRETORA DE IMAGEM E COMUNICAÇÃO DA VIVO

Cliente multifacetário

Os bares, hotéis e restaurantes transgeracionais da Accor, por sua vez, buscam surpreender qualquer cliente, independentemente de faixa etária, cultura e poder aquisitivo – sem generalizações. Para Philippe Trapp, COO Luxe & Lifestyle da empresa na América do Sul, compreender a importância, o comportamento, os desejos e as necessidades dos consumidores de todas as idades é essencial para qualquer corporação. “Percebemos que existem pessoas mais velhas que gostam de ambientes descolados e disruptivos, e existem jovens mais conservadores que gostam de propostas mais sóbrias”, conta.

   Contudo, o executivo explica que não se pode generalizar: de modo geral, os viajantes mais maduros já conquistaram mais coisas em sua vida, e tendem a buscar viagens exclusivas. Já o jovem, diz ele, tende a gostar mais de conhecer pessoas e compartilhar experiências. “Talvez a escolha de onde se hospedar, mais do que conectada à idade, esteja muito interligada ao propósito da viagem e ao que o cliente busca.” Trapp frisa, por fim, que as mudanças nos hábitos de consumo muitas vezes não se dão por conta da idade, mas sim pela facilidade de acesso à informação.

   A categoria de adultos sem rótulos é uma grande aposta da empresa de cuidados higiênicos Kimberly-Clark. Fernanda Hermanny, diretora de Marketing de AdultCare e responsável pela Plenitud, vê no acolhimento uma das chaves do targeting consumidores voláteis. “O segredo é entender cada vez mais esse consumidor, que vai ocupar mais espaço na pirâmide etária da nossa população, e está envelhecendo de forma muito diferente das gerações anteriores.” A executiva afirma que a marca está ciente da necessidade de compreender as diferentes facetas de usuários com a mesma idade cronológica. “Sabemos, por exemplo, que a nova geração tem maduros ativos e digitais. Esse público é muito impactado pela internet, consome conteúdos de influenciadores e compra produtos indicados por eles. É o novo perfil com o qual trabalhamos. Não podemos mais encarar a maturidade como sinônimo de pessoas com pouca autonomia e afastadas do mundo digital. Estamos diante de uma nova realidade de consumidores ativos e que compartilham informação o tempo todo”, diz.

Pelo direito de empreender

Para fomentar o empreendedorismo do novo público maduro, a NEXTT 49+ funciona como co-working para empreendedores acima de 49 anos. Para seu sócio-fundador e diretor, Luiz Fernando Garcia, a proposta é destacar que há uma mudança acentuada na longevidade, que está impactando tanto a relação do público sênior com o trabalho quanto as relações de consumo. E que, em função disso, há uma oportunidade muito grande de mercado. “Até recentemente, a imagem do aposentado era de uma pessoa de pijama, em sua casa, na cadeira de balanço. Naquela época, em média, a pessoa trabalhava muito tempo e depois aproveitava um pouco de sua aposentadoria. Com a menor taxa de natalidade e o crescimento da longevidade, é mundial o movimento de alteração do modelo previdenciário, o que leva as pessoas a continuar trabalhando”, diz.

   Garcia explica, também, que a força de trabalho tem muito a ver com identidade social e ocupação do cérebro. Segundo ele, além da construção identitária, seniores se sentem mais úteis e produtivos ao desenvolver funções que, hoje, são atribuídas aos jovens. “O que se pode afirmar é que as próximas gerações seniores serão de pessoas que já cresceram conectadas, com vida digital, experimentando novas configurações de trabalho e, consequentemente, novos tipos de demanda e processos de escolha de produtos e serviços”, afirma.

Baby Boomers: uma geração mobile

 Há muito tempo, os jogos digitais já não são mais considerados “coisa de criança”. O estudo Mobile Game Demographics, da Tapjoy (2019) aponta que 23% dos jogadores de dispositivos móveis são pessoas acima de 55 anos de idade. São, também, classificados como a população demográfica mais crescente ao adotar jogos mobile e redes sociais. Mas não são apenas os games de celular que fazem a cabeça do consumidor ageless; os Esports, ou esportes eletrônicos, também são abraçados por todas as demografias.

   O game multiplayer League of Legends, da californiana Riot Games – um dos mais populares entre os gêneros competitivos –, abraça jogadores das mais diferentes idades. Roberto Iervolino, country manager da Riot no Brasil, conta que o objetivo atual da empresa é que seus jogos perdurem por gerações. “League of Legends acabou de celebrar dez anos, e muitas pessoas que começaram a jogá-lo em 2009 já formaram famílias, e continuam fazendo parte da comunidade – seja jogando, seja por meio dos Esports ou por outras plataformas”, diz.

   Iervolino conta, também, que o investimento de clubes tradicionais de futebol nos esportes eletrônicos está expandindo o impacto geracional para o próprio futebol. “Os clubes têm olhado com otimismo para os esportes eletrônicos porque querem rejuvenescer a sua torcida. Para os tradicionais times de futebol, no Brasil, e de basquete, nos Estados Unidos, entrar no universo dos Esports é importante justamente porque é aí que está a próxima geração de torcedores.”

   Para atingir públicos das mais diferentes idades, a Riot Games, comenta Iervolino, investe em conteúdos relacionados ao universo do game em múltiplas mídias. “Estamos no open beta (fase de testes) de um jogo de cartas chamado Legends of Runeterra, em que, geralmente, os jogadores são mais velhos por uma questão de preferência do gênero.”

   Segundo o executivo, outra maneira de atingir pessoas mais velhas é investir no enriquecimento do enredo dos jogos. Dessa forma, é possível expandir o produto para outras plataformas. “Um universo rico nos permite publicar histórias com enredos em quadrinhos, no formato de série de TV e na música”, revela. “É importante dizer, também, que estamos de olho no mundo mobile, no qual estão os nossos jogadores mais jovens, mas também os de mais idade que não querem ter um PC para games”, revela.

LEAGUE OF LEGENDS ACABOU DE CELEBRAR 10 ANOS E MUITAS PESSOAS QUE COMEÇARAM A JOGÁ-LO EM 2009 JÁ FORMARAM FAMÍLIAS..”

ROBERTO IERVOLINO, COUNTRY MANAGER DA RIOT NO BRASIL

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SUMÁRIO – Edição 283

As relações de consumo acompanham mudanças intensas e contínuas na sociedade e no mercado. Vivemos na era da Inteligência Artificial, dos dados e de um consumidor mais exigente, consciente e impaciente. Mais do que nunca, ele é o centro de tudo: das decisões, estratégias e inovações.
O consumidor é digital sem deixar de ser humano, inovador sem abrir mão do que confia. Ele quer respeito absoluto pela sua identidade, quer ser ouvido e ter voz.
Acompanhar cada passo dessa evolução é um compromisso da Consumidor Moderno, agora um ecossistema de Customer Experience (CX), com o mais completo, sólido e original conhecimento sobre comportamento do consumidor, inteligência relacional, tecnologias, plataformas, aplicações, processos e metodologias para operacionalizar a experiência de modo eficaz, conectando executivos e lideranças.

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As relações de consumo acompanham mudanças intensas e contínuas na sociedade e no mercado. Vivemos na era da Inteligência Artificial, dos dados e de um consumidor mais exigente, consciente e impaciente. Mais do que nunca, ele é o centro de tudo: das decisões, estratégias e inovações.
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Coordenadora
Mariana Santinelli

Coordenador de Marketing de Performance 
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Gerente

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Consumidor Moderno ISSN 1413-1226

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