Ainda faz sentido estudar gerações?
- Por MARINA ROALE
- 3 min leitura
NOS ÚLTIMOS ANOS, VEM AUMENTANDO o interesse do mercado nos estudos sobre as gerações. Sempre estampando matérias jornalísticas e debates no mundo do consumo, há um certo frisson em descobrir o novo comportamento hype para cada uma delas: Baby Boomers compram on-line? A Geração X acredita nos bancos digitais? Millennials querem imóveis? A Geração Z é mais ativista?
Em tempos caóticos, incertos e não lineares, trazer respostas de “sim” ou “não” para essas perguntas é como seguir um mapa de tesouro da audiência. Elas chamam a atenção e ajudam alguns marqueteiros indecisos a tomar algumas decisões. Mas, enquanto pesquisadora, é importante esclarecer duas grandes verdades – levemente contraditórias – sobre o tema.
A primeira é que sim, estudar gerações ainda se faz relevante no cenário atual. Em um mundo no qual a gente se comunica por meio de diversas plataformas e de maneira assíncrona, entender a lente que o outro usa para enxergar o mundo é recurso de sobrevivência. Só que, mais do que cravar respostas em pedra, o que esses estudos mais nos trazem de rico é a possibilidade de cocriar soluções entre cabeças distintas. Um RH pode pensar um programa de carreira mais efetivo se souber o que cada geração entende por sucesso profissional. Ou até mesmo um bot pode atender alguém melhor se souber a diferença do que é eficiência para cada grupo de pessoas a partir de sua idade.
Por mais que tenhamos nossas verdades e valores individuais, somos fruto do nosso tempo. As tensões de cada época moldam as gerações. Por isso, faz sentido que um grupo de pessoas que cresceu com inflação e crise econômica preze por estabilidade enquanto o que cresceu achando que seu país era a promessa do futuro quisesse inventar uma carreira cheia de propósito e significado. A partir das discussões políticas, das descobertas da ciência, das evoluções da tecnologia e da arte valorizada em cada tempo, podemos compreender melhor um grupo de pessoas de determinada faixa etária. Podemos entender seus sonhos, aspirações, negações e até porque acham uma marca cool enquanto boicotam outra nas redes sociais.
No entanto, não podemos ignorar a segunda grande verdade sobre gerações: elas não funcionam como bola de cristal de respostas futuras. O que elas entregam são perguntas futuras. E saber as perguntas da vez é algo poderoso; é entender o que cada geração enfrenta de conflito e fomenta de debate. Isso significa compreender sem generalizar, até porque, no contexto que legitima cada vez mais a diversidade, ignorar diferentes realidades é andar para trás. A dica para marcas que querem usar esses estudos de forma mais estratégica é assumir intersecções e buscar mais diálogos e menos respostas, mais compreensão do que rotulação.
Recomendadas
+ CONTEÚDO DA REVISTA
Rua Ceará, 62 – CEP 01243-010 – Higienópolis – São Paulo – 11 3125 2244
Rua Ceará, 62 – CEP 01243-010 – Higienópolis – São Paulo – 11 3125 2244