De tanto sonhar, a realidade acredita.
Essa polifonia sobre ESG induz o mercado a enxergá-lo como se já fosse uma constante. No entanto, essa pode ser exatamente a armadilha para que as bases fundamentais desse processo de transformação não sejam bem estabelecidas.
O mercado ainda apresenta muitos desafios elementares para que a agenda ESG seja levada às últimas consequências. No ESG, “tudo vale”. Externalizar, de forma seletiva, os impactos e esforços positivos de determinada empresa, ocultando seus problemas, tem oferecido narrativas convincentes (porém, parciais e perigosas) de que ela é ESG ou está na busca de ser. O boom de metas para 2030, 2050, muitas vezes sem o devido embasamento de como serem alcançadas, é outro ponto sem nó, como se a simples intenção já fosse o fim.
A maioria das empresas possui um conhecimento limitado de seu impacto real e concreto no mundo. Os impactos negativos não estão devidamente considerados e monetizados. Isso gera, por sua vez, falta de autocrítica: líderes com visões rasas sobre a atuação de suas empresas, desviando-se de discussões-chave sobre core business, longo prazo, “decrescimento”, entre outros tabus que o mercado insiste em não desnudar.
Os próprios líderes empresariais têm pouca propriedade sobre temáticas ligadas a ESG, tais como mudanças climáticas, direitos humanos, economia circular. Isso se agrava ainda mais nos Conselhos Corporativos, cruciais para acelerar as mudanças. Pesquisas mostram que membros de boards também veem uma menor relação entre ESG e os resultados de negócio, quando comparados com o C‑Level das empresas.
Vivemos um momento divisor de águas, que determinará se a onda ESG irá realmente redefinir a forma de se fazer negócios, ou se será mais um pico passageiro e sem legados sólidos.
Para falar de ESG, precisamos sair do campo da superficialidade e entrar no da maturidade. Só assim trocaremos o verbo acreditar pelo verbo aprender.